terça-feira, 28 de abril de 2009

A junção desses elementos: surge o ator


Preservando o Cálice, domando o cavalo, estimulando o fogo e soltando o menino, o artista está preparado para viver e criar uma vida bela e uma obra util para a coletividade. E isso é tudo meus anjos!

domingo, 26 de abril de 2009

O Menino

A última parte do texto de Corrêa.

Recado aos jovens da CAL*
Rubens Corrêa



O MENINO

A recuperação da liberdade da infância através da vida adulta foi sempre uma das minhas metas; a criança é uma fonte incrível de informação artística - e a criança que nós fomos recuperada através do nosso lado lúdico tão atrofiado pelo correr dos anos – pode nos servir de guia, mas um guia muito especial, que caminha alegre e despreocupado, que sabe descobrir o mágico dentro do cotidiano, intuitivamente

Um grande exemplo da presença do menino dentro de um artista está na figura e na obra do pintor Pablo Picasso. "Eu não procuro, eu acho" afirmava o grande pintor. E essa fala denuncia o menino que Picasso levava dentro de si, que pintava cerâmica usando como base para o desenho a espinha do peixe que tinha comido no almoço, ou fazia fantástica escultura aproveitando uma roda velha e quebrada de uma bicicleta encontrada na estrada durante seu passeio matinal. O menino traz alegria e descompromisso racional para o trabalho artístico. No Passeio Público do Rio de Janeiro tem um menino-anjo esculpido num bebedouro (se não me engano de Mestre Valentim) com a seguinte legenda: "Sou útil, inda brincando". Essa é a lei e a sabedoria dos meninos.

Acho que preservando o cálice, domando o cavalo, estimulando o fogo e soltando o menino, o artista está preparado para viver e criar uma vida bela e uma obra útil para a coletividade.

* Aula inaugural da Cal (Casa das Artes de Laranjeiras) – Rio de Janeiro (RJ), em 12 de março de 1984. Reproduzida de uma apostila do autor.

domingo, 19 de abril de 2009

Não foi Prometido, mas veio Prometeu.

Prometeu representa a vontade humana por conhecimento, sua captura do fogo é a audácia humana pela busca de conhecimento e de compartilhá-lo.

A Prometeu teve um grande desafio junto ao seu irmão, porém fez uma audaciosa ação, roubou o fogo que assegurou a superioridade dos homens sobre os outros animais. Todavia o fogo era exclusivo dos deuses. Teve um castigo severo de Zeus, castigo este que devia durar 30.000 anos.

A história foi teatralizada pela primeira vez por Ésquilo no século V - a.C. com o título de "Prometeus desmotes" (Prometeu Agrilhoado/Acorrentado).

Vamos instigar nossos questionamentos, quem era irmão de Prometeu? Qual o seu desafio? Que castigo foi este?!?!

Quem souber compartilhe, quem não souber me avise, vamos pesquisar juntos!

Ah não se esqueçam da provocação: "O verbo se faz carne".
Até mais!

Hamlet X Macbeth

Um encontro de monstros... da literatura mundial. Esses personagens são de extrema importância para quem estuda teatro, por toda sua complexa construção e claro por serem das obras de um dos maiores dramaturgos de todo o mundo (William Shakespeare).

Importante para discussão e estudos teatrais, abro espaço então para uma breve introdução de suas características centrais e uma sinopse de suas histórias. Fiquem a vontade para levantar qualquer que seja o apontamento sobre estes.

Hamlet -
O protagonista desta obra é o Príncipe Hamlet, filho do Rei Hamlet e sobrinho do Rei Cláudio, irmão e sucessor de seu pai. Após a morte do Rei Hamlet, Cláudio casa-se apressadamente com a então viúva Gertrudes, mãe do príncipe. Num plano de fundo, a Dinamarca está em disputa com a vizinha Noruega, e existe a expectativa de uma suposta invasão liderada pelo príncipe norueguês Fórtinbras. A obra reconta a história de como o Príncipe Hamlet tenta vingar a morte de seu pai Hamlet, o rei, executando seu tio Cláudio, que o envenenou e em seguida tomou o trono casando-se com a mãe de Hamlet. A peça traça um mapa do curso de vida na loucura real e na loucura fingida — do sofrimento opressivo à raiva fervorosa — e explora temas como a traição, vingança, incesto, corrupção e moralidade.

Macbeth -
Macbeth e Banquo, ambos generais do exército do Rei Duncan, encontram um grupo de feiticeiras. Macbeth é saudado profeticamente como Guerreiro de Cawdor e Rei da Escócia ,e Banquo, como pai de um futuro rei. Um servo traz a mensagem de que "Sir de Cawdor" fora enforcado e que todas suas terras e título passam a Macbeth. No castelo, a ambiciosa Lady Macbeth lê com satisfação a carta de Macbeth relatando o ocorrido. O Rei Duncan passará a noite no castelo, e esta é a oportunidade que queria Lady Macbeth, persuadindo o marido a matar o Rei. Macbeth comete o crime, torna-se rei, mas vive inquieto com sua consciência e também com a profecia das feiticeiras, de que um filho de Banquo - e não seu - será rei. Ele e sua mulher planejam assassiná-lo. Um bando de assassinos mata Banquo, mas seu filho Fleance escapa.

Pra terminar, pode até parecer desnecessário citar quem foi o criador dessas duas obras, mas aqui o faço por uma questão de conhecimento e lembranças. William Shakespeare foi um dramaturgo e poeta inglês e um dos mais influentes no mundo ocidental. Suas obras que permaneceram ao longo dos tempos consistem de 38 peças teatrais, 154 sonetos, dois poemas de narrativa longa, e várias outras poesias. Suas obras são mais atualizadas do que as de qualquer outro dramaturgo. Muitos de seus textos e temas, especialmente os do teatro, permaneceram vivos até aos nossos dias, sendo revisitados com freqüência pelo teatro, televisão, cinema e literatura. Entre suas obras é impossível não ressaltar Romeu e Julieta, que se tornou a história de amor por excelência e Hamlet, que possui uma das frases mais conhecidas da língua inglesa: To be or not to be: that's the question (Ser ou não ser, eis a questão).

Vamos lembrar que o conhecimento nos leva além, vamos alimentar a alma com a arte e a mente com nossos estudos!

Ótimo domingo!
Ótima semana!

Provocação!

"O verbo se faz carne!"

Provocação que o Otávio nos fez, vamos colocar em discussão, e como o Otávio sempre diz "não existe certo, nem errado", vamos arriscar, opiniar, interagir e conhecer diferentes visões e pensamentos! É errando que aprendemos.

Bom Domingo!
Bom Feriado!

Até mais!

O Fogo

Mais uma parte do texto de Corrêa.

Recado aos jovens da CAL*
Rubens Corrêa



O FOGO

O fogo através do tempo sempre foi o símbolo vivo da fé, do entusiasmo e da rebeldia; mantê-lo aceso dentro de nós é também um trabalho para a vida inteira. O fogo nasce de um estado de curiosidade natural e instintivo e pode ser desenvolvido através da conquista progressiva de uma cultura geral, de uma observação apaixonada da história do homem, da história de todas as artes, da emocionante história do teatro – e um profundo sentimento de observação do ser humano – aqueles para quem realizaremos nossas mágicas, o nosso público. Esse fogo interno, uma espécie de grande rol central de energia e fé, é uma grande defesa contra a acomodação, e me parece ser a grande mola propulsora da criatividade; devemos estar sempre atentos aos seus chamados, e é preciso não deixar nunca, custe o que custar, esse fogo esmorecer, porque, caso isso aconteça, seremos os artífices de uma arte morta, sonâmbula, inútil, feia e resignada.

*Aula inaugural da Cal (Casa das Artes de Laranjeiras) – Rio de Janeiro (RJ), em 12 de março de 1984. Reproduzida de uma apostila do autor.

quarta-feira, 15 de abril de 2009

Informativo Cultural!

Dicas da Gisele:

- No site da Prefeitura de Americana (http://www.americana.sp.gov.br/) está sendo disponibilizado para cadastramento o e-mail de quem se interessar em receber a agenda cultural de Americana (agendacultural@americana.sp.gov.br).

- No site da prefeitura tbm está tendo um cadastramento de artista (várias categorias: ator, fotográfo, etc), mesmo que os aprendizes e amadores.

- Está acontecendo a Viagem Cultural do SESI, onde várias peças passam por várias cidades e normalmente a mais próxima para nós é Piracicaba, onde poderíamos até tentar nos organizar como te falei em “caravanas” para ir assistir. A entrada é gratuita e muitas vezes eles trazem propostas diferentes de cenário, figurino, maquiagem, direção, iluminação e etc...
Esse link tem o cronograma de Piracicaba.
http://www.indicapira.com.br/padrao.aspx?texto.aspx?idcontent=3151&idContentSection=1843

Bom é isso!
Ótima semana a todos!

segunda-feira, 13 de abril de 2009

Texto de Rubens Corrêa

Uma primeira parte de um texto trabalhado nos encontros.

Recado aos jovens da CAL*
Rubens Corrêa


Fui convidado para conversar com vocês sobre o ator; sei que muitos aqui jamais representaram, e outros deram apenas os primeiros passos neste caminho labiríntico que é o mundo da interpretação. É uma tarefa que exige de mim sensibilidade e coragem; acho uma grande responsabilidade falar aos jovens, e é com muita emoção e prazer que passo adiante as humildes sementes do meu trabalho artístico, com a esperança de que alguma utilidade possa ser encontrada nelas e que de alguma maneira elas possam lhes tornar a caminhada menos solitária e mais solidária, na medida em que esta receita muito pessoal provoque dúvidas e reconsiderações, ou toque o sagrado dentro de cada um de vocês, ou reacenda aquela esperança cega que Prometeu garantiu ser a conquista mais urgente para a sobrevivência do homem neste planeta.

O grande poeta e dramaturgo alemão Büchner escreveu numa cena de sua peça "Woyseck": "Cada ser humano é um abismo e a gente tem vertigens quando se debruça sobre um deles."
Acho que nós atores somos duplamente esse abismo-espelho: como seres humanos e como artistas. Nossa missão é provocar vertigem e o revisionamento do abismo dentro de cada espectador, para que depois de cada mergulho em nossos personagens-propostas essas pessoas pensem, se emocionem, compreendam e amem com nova e maior intensidade.

Eu, Rubens Corrêa, ator e artista de teatro, vinte e oito anos de profissão, e séculos e mais séculos de um longo período não sei onde, ofereço a vocês com apaixonada humildade o meu aprendizado nesta caminhada em cima das brasas sem se queimar que é a condição necessária para poder representar e viver com algum significado neste nosso bizarro país sul-americano.(...)

O CÁLICE


Representar para mim é a possibilidade que me foi dada de me comunicar com o meu semelhante através de uma troca de idéias, imagens, palavras, gestos e emoções. Um divertido, fascinante, e muitas vezes cruel jogo que mistura ficção e realidade, consciente e inconsciente, sagrado e profano, amor e ódio, vida e morte. Uma Paixão.

Através dos anos venho elaborando em cima das tábuas o meu trabalho, tentando sempre o difícil equilíbrio entre as conquistas técnicas e a simplicidade da execução. Aqueles instantes, todas as noites, em que represento um papel, são sempre os melhores momentos do meu dia.

Isso quer dizer que levo para o palco meus sentimentos, minha idéia, minhas alegrias, meus abismos, meu horror e minha luz. Diariamente filtro essas emoções através das necessidades de cada personagem, e recebo de volta para mim mesmo uma nova compreensão de meus problemas - e acrescento ao personagem um novo enriquecimento conseguido "à quente", quer dizer, arrancado de dentro de mim mesmo.

Com o correr dos anos fui aprendendo a me observar como artista e ser humano, e fui tentando aproveitar em meus desenhos interpretativos a linguagem interior de minha vivência pessoal, para conseguir assim essa difícil união entre arte e vida, que foi sempre a minha grande aspiração.

Sempre acreditei que cada ator traz consigo um material fantástico, inimitável e único, muito difícil de ser conservado e desenvolvido nesta nossa era brutalizada e massificada.

É um cálice de cristal interior, que deve ser preservado e defendido através de muitos terremotos, muita contrariedade, muita decepção e sensação de abandono, mas com momentos também de enorme luminosidade que quando acontecem recompensam o artista e engrandecem o ser humano.

Cada ator é único e inimitável se ele mergulha com honestidade em si mesmo, e retrata o seu semelhante com generosidade, verdade e paixão. "Somos feitos da essência com que os sonhos são feitos" escreveu Shakespeare, e essa é a melhor definição que conheço sobre o mistério da representação.

O CAVALO


Cada ator tem obrigação de zelar e desenvolver o seu instrumental – sua voz, seu corpo: seu cavalo. Devemos transformar nosso corpo num grande arquivo de imagens com possibilidades de serem utilizadas em nossos futuros personagens; nossa voz deve poder miar, rugir, gemer, uivar – nossas mãos podem ser galhos de árvores, garras de feras, folhas secas ao vento – nossos pés, colunas de um templo, patas de animais. Nossos olhos devem poder reproduzir o enigma do olhar da esfinge, e a clareza cristalina de um poema de Brecht.

E mais, devemos nos preparar para poder receber com artística mediunidade a alma do mundo, as grandes interrogações do nosso tempo, a voracidade deste universo em constante transformação.

Devemos ser suficientemente fortes para poder reproduzir simultaneamente a maravilha e o horror do ser humano, a criatividade e a autodestrutividade de nós todos, homens, através desta difícil caminhada da vida.

O nosso cavalo deve então se preparar para poder assumir todas estas formas, e por isso ele tem de ser constantemente reabastecido e renovado.

O cavalo é também o estimulador de nossa energia, o conservador de nosso entusiasmo e de nossa fé; quando as crises vierem (e não tenham dúvida de que elas virão), nada melhor do que trabalhar na fortificação do cavalo, porque no mínimo estaremos crescendo durante a crise, estaremos trabalhando e temperando novas energias, adquirindo novas técnicas, novos conhecimentos. Podem ter certeza de que um bom cavalo torna o ator indestrutível.

*Aula inaugural da Cal (Casa das Artes de Laranjeiras) – Rio de Janeiro (RJ), em 12 de março de 1984. Reproduzida de uma apostila do autor.